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Qui, 19 de Abril de 2012 13:19
Ato Médico tem tudo para ser aprovado neste ano”, aposta
senador
O senador Antônio Carlos Valadares (PSB/SE), está confiante
na aprovação do projeto de lei de regulamentação da medicina (SCD 268/2002)
ainda neste ano. O parlamentar foi relator da proposta na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ), onde foi aprovada em fevereiro. Ele afirma que
“qualquer mudança de mérito não é mais permitida pelo regimento interno do
Senado”, diz ele, que acredita no resultado, graças ao equilíbrio do texto
aprovado. “Com a redação que lhe foi dada
pela CCJ, tem tudo para ser aprovado em 2012, até porque o seu conteúdo é o
melhor possível”, avalia.
As declarações do
senador sergipano foram concedidas à Revista SOMESE, publicação oficial da
Sociedade Médica de Sergipe. Confira a publicação da Sociedade sergipana e
abaixo a íntegra da entrevista:
Entrevista
Senador Antônio Carlos Valadares
“Ato Médico tem tudo para ser aprovado neste ano”
O senador sergipano Antônio Carlos Valadares, líder do
Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Senado, é o relator do projeto do Ato
Médico na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Em entrevista à
Revista Somese, ele detalha o processo de discussão da proposta, aprovada no
mês passado, pela CCJ, e explica quais os avanços conquistados. “Não tenho
dúvidas de que o projeto que nós conseguimos aprovar foi melhor do que aquele
que aprovamos pela primeira vez, no Senado, e infinitamente melhor do que
aquele que mereceu aprovação pela Câmara dos Deputados. O substitutivo que
apresentei à CCJ foi fruto de uma longa discussão que travei, pacientemente,
por mais de dois anos, com os mais diferentes segmentos da saúde”, afirma. Para
Valadares, é possível que o Ato Médico seja aprovado pelo Senado ainda neste
ano.
Revista Somese – Senador, o que pode ser estabelecido como
avanço em relação às últimas discussões sobre o projeto do Ato Médico? O que
representa a aprovação de seu relatório na CCJ?
Antônio Carlos Valadares – Não tenho dúvidas de que o
projeto que nós conseguimos aprovar foi melhor do que aquele que aprovamos pela
primeira vez, no Senado, e infinitamente melhor do que aquele que mereceu
aprovação pela Câmara dos Deputados. O substitutivo que apresentei à CCJ foi
fruto de uma longa discussão que travei, pacientemente, por mais de dois anos,
com os mais diferentes segmentos da saúde. Não faltei ao compromisso que assumi
em audiência pública para tratar do Ato Médico em cuja reunião disse que o
projeto aprovado pela Câmara dos Deputados trazia distorções inaceitáveis, e
que, na medida do possível, seria mudado para melhor, o que de fato aconteceu.
Daí a aprovação do meu relatório por ampla maioria. Os avanços foram
substanciais. Como o projeto do Ato Médico já havia passado nas duas Casas do
Congresso - Senado e Câmara -, voltando à Casa de origem, do ponto de vista
regimental, eu não poderia, por conta própria, criar novos dispositivos que
alterassem o mérito da matéria. Poderia, sim, como de fato trabalhei em todos
os momentos, pegar os melhores dispositivos aprovados pelas duas Casas e
selecioná-los em benefício de uma proposta equilibrada pela qual sempre busquei
desde o início das discussões.
RS – Como o senhor avalia o prazo tão extensivo de
tramitação do projeto?
ACV – É verdade que a
tramitação do projeto do Ato Médico demorou 10 anos. Atribuo essa demora à
polêmica que se estabeleceu em torno da matéria. É natural que alguns segmentos
que atuam na área da saúde tivessem algum receio de que algo pudesse acontecer
em prejuízo de suas atividades profissionais no dia a dia. Esse receio
recrudesceu em virtude do texto polêmico e, por isso, desequilibrado, aprovado
pela Câmara. Tive então de me desdobrar para afastar as desconfianças.
Empreendi um sincero esforço de engenharia política para tentar convencer as
quatorze profissões da saúde de que faria o melhor. Para tanto conversei
diretamente, recebendo em meu gabinete todas as lideranças que manifestaram
interesse em opinar no intuito de apresentar um texto expurgando as
imperfeições, contemplando uma redação que espelhasse tanto quanto possível,
até o limite de minhas atribuições, o desejo e os interesses legítimos da
maioria. Neste sentido contei com a colaboração de ampla maioria dos
profissionais da saúde.
RS – É possível dizer que o Ato Médico será aprovado em
2012?
ACV – Quero crer que
o Ato médico, com a redação que lhe foi dada pela CCJ, tem tudo para ser
aprovado em 2012 até porque o seu conteúdo é o melhor possível. Qualquer
mudança de mérito não é mais permitida pelo regimento interno do Senado. Se tal
coisa for tentada isso só reacenderia a polêmica e o divisionismo entre os profissionais
de saúde. Lutamos pela preservação da unidade das categorias profissionais,
pela sua integração completa, onde não haja prevalência de umas sobre as
outras, em benefício de uma sociedade que espera uma assistência permanente de
quantos atuam nas atividades exercidas no setor público ou privado da saúde.
RS – Quais os pontos principais do relatório apresentado na
CCJ?
ACV– Eis algumas
normas importantes que conseguimos aprovar na CCJ:
Achamos por bem aceitar o texto aprovado pelo Senado e pela
Câmara que define o diagnóstico nosológico como atividade privativa do médico e
respectiva prescrição terapêutica, e, dentre outras atribuições, a indicação e
execução da intervenção cirúrgica e prescrição dos cuidados médicos pré e
pós-operatórios. Porém o nosso substitutivo que prevê o diagnóstico nosológico,
função atribuída ao médico, assegura outros tipos de diagnósticos às mais
diversos profissões a exemplo dos diagnósticos funcional, cinésio-funcional,
psicológico, nutricional e ambiental, e as avaliações comportamental e das
capacidades mental, sensorial e perceptocodgnitiva. Todos esses diagnósticos
não são privativos do médico.
A Câmara efetuou uma alteração altamente prejudicial aos
fonoaudiólogos e fisioterapeutas ao incluir o diagnóstico funcional e
cinésio-funcional como atribuição exclusiva do médico. Restaurei o texto do
Senado, recompondo os direitos daqueles profissionais.
Com relação, por exemplo, à intubação traqueal, que é
considerada uma ventilação mecânica invasiva, esse procedimento em nosso
substitutivo passa a ser coordenado inicialmente por médico. Neste caso,
concordamos com o texto da Câmara, pois o do Senado falava que o médico é que
tinha de definir e supervisionar tais procedimentos. Pelo texto aprovado caberá
ao médico a coordenação inicial sem anular a participação do fisioterapeuta que
terá suas atividades previstas em lei totalmente preservadas. É sabido que nas
UTIS uma equipe multifuncional trabalha para salvar o doente, e todos os
profissionais têm que exercer as suas competências próprias para alcançar esse
objetivo primacial.
IV) A Câmara aprovou
um texto muito desfavorável aos biomédicos e farmacêuticos determinando que a
emissão dos diagnósticos anatomopatológicos e citopatológicos era uma
atribuição exclusiva dos médicos. Rejeitamos essa distorção, que saiu do texto
aprovado pela CCJ, que protege os direitos daqueles profissionais. A realização
dos exames citopatológicos e seus respectivos laudos consta no rol das
atividades que não são privativas do médico, como queria a Câmara dos
Deputados.
No entanto, com relação aos enfermeiros, aceitamos o texto
da Câmara que diz que a coleta de material biológico continua a ser feita por
aqueles profissionais, não sendo, portanto, atribuição específica dos médicos.
VI) Procuramos garantir
todos os direitos das profissões regulamentadas e reconhecidas em lei.
Reconhecemos e defendemos as competências não só dos odontólogos (art. 4º, §
6º) como resguardamos os das demais profissões. No art. 4º, § 7º, de forma
clara exige-se o respeito às prerrogativas de todas as profissões da área de
saúde. “§ 7º O disposto neste artigo
será aplicado de forma que sejam resguardadas as competências próprias das
profissões de assistente social, biólogo, biomédico, enfermeiro, farmacêutico,
fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, profissional educação física,
psicólogo, terapeuta ocupacional e técnico e tecnólogo de radiologia” .
RS - Como foi a participação da classe médica na discussão
do projeto?
ACV – Os
representantes dos médicos que se reuniram comigo sempre se portaram com a
maior dignidade e espírito público nos debates que mantivemos durante várias
vezes, no meu gabinete e na CCJ. Queriam apenas o reconhecimento de um direito
justo que têm as demais profissionais da saúde, a regulamentação de sua
profissão. Mas foram capazes de
demonstrar em todos os momentos que os seus direitos se encerram quando começam
os direitos dos outros. Também, só tenho elogios para todas as categorias que
se reuniram comigo sempre me tratando com o maior respeito e sabendo das
dificuldades que o relator teria diante de suas limitações regimentais para
elaborar um texto que fosse 100% consensual.
RS – Avaliando a Saúde Pública de forma geral, quais os
gargalos principais para ela seja de qualidade?
ACV - Em primeiro
lugar, é preciso uma consciência coletiva de que saúde pública deveria ser
prioridade. Fui relator da EC 29/2000, que dispõe sobre o financiamento para a
saúde impondo à União, Estados e Municípios, a aplicação de índices
obrigatórios em favor do setor. Apesar
da promulgação dessa emenda constitucional e de sua regulamentação recente, a
saúde pública continua sendo uma das principais fontes de preocupação e de críticas
da comunidade. Mais de 130 milhões de brasileiros não podem pagar o seu
seguro-saúde privado, e dependem do SUS, que é universal e gratuito. A União
investe em saúde mais de R$ 70 bilhões, mas, ainda assim, esse montante de
recursos é insuficiente para melhorar a qualidade da prestação do serviço. Os
Estados são obrigados a aplicar 12% e os Municípios 15% de suas receitas em
saúde. Parece até que o setor nada em dinheiro. À primeira vista, parece. Mas,
as demandas aumentam a cada dia e a gestão da saúde é deficitária. Faltam
médicos no interior, enfermeiros, fisioterapeutas, biomédicos, farmacêuticos...
Nas capitais os hospitais vivem abarrotados. A crise piora porque os municípios
estão enfrentando uma situação de bancarrota, com as suas receitas caindo a
cada dia. A meu ver, para enfrentar não só essa questão crucial da saúde, como
a crise financeira que se instalou nos Estados e nos Municípios, prejudicando a
população em virtude de administrações frustrantes, seria necessário um novo
pacto federativo descentralizando recursos da União, mas impondo regras
restritivas de contenção de gastos em
determinados setores, com prioridades bem definidas para a saúde, educação e
segurança.
RS – Em ano eleitoral e dando destaque a Aracaju, o que o
senhor acha que precisa ser melhorado no serviço de assistência médica da
capital?
ACV – A demanda na
capital é grande porque vem muita gente do interior e até do Estado da Bahia
para ser atendida nos hospitais, principalmente no João Alves. A Ação do
governo estadual é correta quando procura fortalecer o atendimento no interior
entregando aos municípios clínicas bem equipadas e bem construídas. Porém, essa
boa vontade esbarra numa dificuldade, no momento difícil de resolver, porque
muitas prefeituras não podem arcar com os custos elevados da manutenção dessas
unidades de saúde. Insisto que devemos injetar mais recursos nos municípios com
a contrapartida do controle rigoroso de sua boa e correta aplicação. Em resumo,
se há falta de dinheiro, como se alega, também não podemos esquecer que uma
adequada gestão pode suprir no todo, ou pelo menos em parte, a eterna
reclamação por mais recursos.
RS – O que o senhor acha da opinião de alguns parlamentares
que encaram o ato médico como uma ação corporativista?
ACV – É errôneo
afirmar que se trata de uma ação corporativista, uma vez que é no parlamento
onde são regulamentadas todas as profissões.
RS – Qual a importância do ato médico para a categoria?
ACV – O Ato Médico
delimita a atuação dos que exercem a profissão do médico, reconhecendo as suas
atribuições ao lidar com a vida das pessoas. É a única lei que, se for
sancionada, não se preocupa apenas em assinalar o que é direito do médico no exercício de sua profissão. Ela (a lei)
irá garantir, ela não tira, antes preserva as competências das demais
profissões de saúde. Além do mais, com a definição transparente das atribuições
de cada profissão, ficará mais fácil identificar as responsabilidades nos casos
que venham a ser analisados pela Justiça.
A somação entre médicos e os
demais profissionais é imprescindível. Todos devem conviver e trabalhar em
harmonia, em obediência ao princípio de integração, fazendo parte de uma
estrutura multidisciplinar, em que cada um possa fazer a sua parte, em estrita
colaboração, sem invasões desnecessárias, tendo como alvo a sociedade que é a
verdadeira destinatária do esforço coletivo visando à justiça social e o
cuidado com a vida do ser humano.
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