quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Discurso de Homenagem ao Dermatologista nos 100 anos da Sociedade Brasileira de Dermatologia


Devido aos diversos pedidos, faço transcrever o discurso do dia do dermatologista, do dia 09 de Fevereiro de 2012.
Agradeço aos que pediram esta publicação.

  A dermatologia é a ciência do limite. A pele é o seu objetivo e razão de existir. Na qualidade de homens, no sentido físico, é na pele que começamos e na pele que terminamos.
 Este orgao nos limita em individualidade , permitindo que o Eu de cada um seja reconhecido a partir da pele que nos recobre.
 Como as montanhas que avançam sobre mares arredios, a pele também sofre a todo dia o acariciar do vento e o beijo úmido da água.  Tal como a rocha, foi meticulosamente criada para suportar a intempéries da vida.
 Desta forma, nós dermatologistas, podemos dizer que vivemos neste limite e nele produzimos nosso conhecimento.
 Mas pensar que a pele é só uma estrutura física e acreditar que também o somos é impensável .
 A pele e muito mais do que isso. Em seu limite, ela se mostra ilimitada. Seja na emoção de um toque, seja no calor de um afago ou nos arrepios de uma paixão. Ela nos envolve e nos mostra que somos mais do que matéria, somos sentidos. Sentimentos vivos.
 Daí, pode-se dizer que somos ,dermatologistas, os cientistas que estudam o limite do ilimitável, a matéria do imaterial.
 Esta estrutura, razão de nossa vida profisssional, mostra-se então forte como a montanha, mas ao mesmo tempo delicada como uma pétala de flor. Somos os seus guardiões. Tentamos recuperar sua força algumas vezes, sua delicadeza em outras. Buscamos restaurar sua aparência e conservar suas virtudes. Porque somos dermatologistas.
 Devemos a séculos de dedicados  estudos  o conhecimento que temos dela. Não a entendíamos no nascer do conhecimento , na Grécia antiga. A julgávamos como estrutura a expurgar os humores que nos viciavam a saúde. Apesar dos estudos iniciados no século XVI, e da importância do nascer da ciência moderna com o racionalismo cartesiano e principalmente o empirismo baconiano, foi somente na era moderna, nos idos do século XVIII , que alguns gênios da medicina como Plenck, Von Hebra, Alibert, Willan e Bateman entre tantos outros, começaram a decifrar os mistérios da ciência recém nata, a dermatologia moderna.
 No século XIX os seus conhecimentos chegavam ao Brasil. Em um pavilhão da Santa Casa do Rio de Janeiro, nomes como Arminio e  Sylvio Fraga e Francisco Rabello entre tantos  se imortalizaram.
 Foi no dia 5 de Fevereiro de 1912 que 18 ilustres médicos, entre eles 10 dermatologistas, com nomes como Adolfo Lutz, Adolfo Lindenberg, Paulo Horta, Gaspar Vianna, Juliano Moreira e Silva Araujo , fundaram a Sociedade Brasileira de Dermatologia.
 Nós somos o exemplo das infinitas ramificações que produziram os frutos daquela que é hoje a segunda maior sociedade de dermatologia do mundo.
 O momento é de jubilo pelo conquistado e de reflexão em relação aos caminhos a serem seguidos nos próximos cem anos.
 Uma dermatologia cientificamente avançada, livre dos preceitos que criaram as absurdas teorias de supremacia étnica do passado, uma nova ordem mundial de deslocamento dos pólos econômicos para regiões diversas no Globo terrestre e uma crescente preocupação com o bem estar e com o ambiente farão certamente   desaparecer temores do passado, como a sífilis e a hanseniase, e avançar na terapia genetica das genodermatoses e  imunológica dos tumores.
  E quanto a nós , dermatologistas,
 Esperamos que, como a pele, possamos dignificar a beleza de sua estrutura, a magnificência de suas funções, a transcendência de sua sensitividade, cientes de que seus limites aparentes jamais existiram.
RMSL

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